Diário Oficial
Estado de Pernambuco
Ano XCIX • No 199
Poder Executivo
Recife, terça-feira, 18 de outubro de 2022
F
:A
M
Célio, o homem
que desbravou o
próprio nome
após os 60 anos
O servidor público recebeu
incentivo da equipe de Recursos
Humanos da Secretaria de
Administração e voltou à escola
para se alfabetizar.
C
P
M
T
élio Gomes da Silva fazia brotar plantas por onde passava.
Tal qual Tistu, do livro O Menino do Dedo Verde. Célio era
jardineiro do Palácio do Campo das Princesas, no bairro de Santo Antônio,
área central do Recife. Assim ele adentrou no
serviço público, há 38 anos. O tempo passou.
E Célio deu-se conta da necessidade de entender melhor das letras do que das plantas. Quando criança, teve dificuldades para aprender em
uma escola tradicional, igual ao personagem
do livro, um clássico escrito em 1957. E virou
homem adulto sem saber escrever o próprio
nome. Nessa condição, não se percebia como
uma pessoa completa. Um dia, quem floresceu
foi o próprio Célio. Pelas mãos cuidadosas de
outras pessoas.
Célio completou 66 anos. Hoje, integra o
quadro da Gerência de Apoio Jurídico aos Processos de Pessoal da Secretaria de Administração (SAD) do Governo de Pernambuco. Atua
como auxiliar de gestão pública. Dizem que ele
já não é o mesmo homem de antes. Quem diz
tem razão. Célio aprendeu a escrever o nome
dele aos 61 anos. Foi depois de conhecer Fernanda Almeida, gerente de Recursos Humanos
na SAD entre os anos de 2013 e 2019. Ganhou
incentivo. E auto-estima.
“Quando eu precisava assinar algum documento, ficava aperreado. Sentia muita vontade
de fazer o nome, de assinar. É como se antes
de aprender eu não existisse”, raciocina o servidor. A história dele se parece com a de outras
crianças brasileiras moradoras do interior. Filho de pais muito pobres e de família numerosa
- ele tinha sete irmãos, Célio conta ter recebido
incentivo da família para estudar, mas o acesso
à escola era difícil por causa da distância. “Era
mais ou menos uma hora andando para chegar
até a sala de aula. Até fui para a escola, mas o
assunto não entrava na minha cabeça. Achava
difícil.” E assim ele cresceu.
O papel de Fernanda e equipe foi fundamental no processo de mudança na vida de Célio e
de outros nove funcionários da SAD naquela época. Na atuação junto ao RH, ela começou a perceber a presença de pessoas analfabetas ou com dificuldades para escrever, mesmo
tendo frequentado a escola. Se informou e descobriu o Programa Paulo Freire - Pernambuco Escolarizado, que alfabetiza jovens a partir
de 15 anos, adultos e idosos. O curso dura oito meses.
Fernanda, então, reuniu o grupo e encaminhou os participantes para uma escola pública em Brasília Teimosa, perto da SAD. Dessa
forma, alguns eram liberados para participarem das aulas no horário do expediente. Além
disso, não tinham custo para se deslocar até a
unidade de ensino e as chances de evasão diminuiam. “Célio se destacou durante toda a capacitação porque era muito motivado e carismático. No cargo dele, existe a possibilidade de
progredir no salário com as capacitações. Ele
terminou sendo um multiplicador da ideia junto a outras pessoas”, comentou Fernanda.
Célio tem feito planos de voltar para a escola em 2023. Quer continuar aprendendo. Alimentando sonhos. E florescendo.
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